sábado, 14 de abril de 2012

Um dia houve uma ilusão.

Tudo
começou num beijo, como começa a maioria dos relacionamentos, e
neste teu beijo, tão sedutor e perigoso, como também tu eras, eu me
envolvi, caí... admito! Como um caçador experiente apanha
facilmente uma presa, Tu me apanhastes e eu paralisada de medo cedi
as tuas armadilhas, e me prendeste de tal forma, como bom adestrador
que eras fizeste de mim seu objeto de estudo e de aperfeiçoamento.
Eu sei, é bem provável que eu tenha percebido tuas artimanhas, mas
até isso acontecer tu já havias me domado e eu já estava em tuas
mãos dependente do desejo que me causava a tua carne, tu eras pra
mim a heroína e a morfina que me afagava o corpo e a mente, e eu
era para ti um novo desafio, uma nova presa fácil prestes a ser
domada. Eu bem que tentei resistir mas a tua pele me causava uma
sensação de torpor como ninguém jamais havia me causado, e entre
nós era puro desejo, talvez um pouco de amor de minha parte, eu boba
me rendi a tua falsa doçura e ao encanto que escondia a tua
verdadeira identidade, enfim... a ilusão tomou conta de minha
mente e passaste a ser para mim exatamente o que eu procurava.
Eu
me abri completamente e aos poucos fostes decifrando-me, descobrindo
minhas falhas, meus medos, meus segredos, e como bom estrategista que
sempre foi e é, organizou as peças do tabuleiro, manipulou-me e como num jogo de xadrez, encurralou-me até o momento em que estive
totalmente vulnerável, e pronto foi cheque mate!
Eu
já não mais tinha vontade própria, minhas ações, meu corpo,
tudo era teu, e eu não me importava, contanto que a minha
dependência estivesse sempre por perto, já não me importava mais
família, amigos, lazer, dinheiro, me importava apenas o desejo que
me consumia e que aumentava a cada dia, cada dose de ti, enquanto que
tu, apenas aperfeiçoava a tua atuação, tua vasta experiência,
(coisa que me faltava), e assim durante um período mantínhamos
nossos interesses. até que um de nós se cansasse, obviamente não
seria eu, e não foi, você extraiu de mim tudo o que precisava até
que surgiu uma nova presa fácil e respondendo ao teu instinto foste
a caça! E eu continuava completamente apaixonada por ti, enquanto
que para ti eu já não mais servia de nada, e foi então que
chegou o dia que eu mais temia, a tua máscara de doçura e
perfeição caiu, e vi aquele que um dia foi meu vício sucumbir e em
seu lugar surgiu o oposto do que sempre foste pra mim, e como bom
adestrador que era largaste-me pois meus truques para ti já não
mais causava um efeito de novidade e sim de mesmice, e me
substituíste no picadeiro da tua vida, pois afinal o show deve
sempre continuar. Meu processo de reabilitação foi duro, talvez
a pior fase de minha vida, talvez as piores semanas de minha
existência, os dias eram longos, e as noites eram intermináveis, o
sono havia esquecido meu endereço, e as lágrimas sempre me
visitavam em todos os momentos e os suicidas já não me pareciam tão
loucos quanto eu pensava, tudo em mim estava desbragado, mas ao
poucos a idealização que sempre tive por ti, foi se transformando
num grande desprezo e aquele desejo se tornou ódio, e finalmente
percebi que como se extrai o pólen de uma flor, tu extraíste de mim
tudo que o que havia de bom, toda minha inocência e ternura, toda a
fé que eu tinha no ser humano, como um bomba atômica, aparentemente
inofensiva, mas com grande poder de destruição, me destruíste e
deixaste apenas escombros de mim. Tive que me reerguer, e consegui!
Mas o solo ainda é sensível e os estragos nunca serão totalmente
reparados e o teu cheiro, como a radioatividade sempre vai pairar
sobre o meu corpo.
Por- Mayara Campos

2 comentários:

  1. todos nascemos com um proposito, papeis, dons , digo porque você tem um proposito, um papel e um dom! muito bom o texto, sua forma estrutural, e construtivo. você tem um dom inimaginável, aos meus e muitos vários olhos (...)

    Parabéns!!!

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  2. Muito obrigado, Fico feliz em saber que você gostou!! Espero poder continuar tendo essas inspirações que ando tendo ultimamente.

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