terça-feira, 1 de setembro de 2015

Conto de Esquerda e Direita - Cap 01

Era uma vez, um jovem chamado José e uma jovem chamada Luisa, duas pessoas pessoas totalmente diferentes, dois mundos distintos, que por um acaso ilógico do destino, resolveram se chocar, e acabaram apaixonando-se perdidamente um pelo outro, mas como toda boa história de amor possui conflitos, essa também possui os seus.

José, um jovem de 22 anos, olhos esverdeados, cabelos castanhos encaracolados, além de admirado por todas as meninas, era bem nascido, morava em um apartamento à beira mar, acabara de ganhar o segundo carro, fruto do seu ótimo desempenho no vestibular, tinha sido preparado a vida toda para aquele momento, havia estudado em boas escolas, recebido acompanhamento pelos melhores professores em aulas particulares, quando fez o vestibular para o curso de Direito os pais tinha certeza que José ficaria entre as primeiras colocações e assim aconteceu.

Luisa, era uma jovem linda, tinha 20 anos, tinha cabelos longos, olhos castanhos e aquele sorriso que mostrava as covinhas de seu rosto, que aliás ela morria de vergonha. Nasceu em um bairro não tão favorecido(vamos usar este termo), morava com a mãe, o pai havia falecido quando ela tinha cinco anos, o que fez sua mãe prometer que faria de tudo para sua filha não ceder a realidade em que viviam, pagou boas escolas, cursinhos, e assim, Luisa conseguiu passar no vestibular para cursar Direito.

Eles se conheceram no primeiro dia de aula, pareceu até filme sabe? Ela havia chegado cedo para a aula, ansiosa, mal tinha dormido na noite anterior, sentou-se na primeira fila, um dos motivos para fazer José acabar sentando exatamente do seu lado, chegou atrasado, e a única cadeira vaga estava na primeira fileira, sentou, recebeu uma piada/bronca do professor de Filosofia, Luisa não pôde evitar dar um sorriso, ele já mal humorado, não era assim que tinha imaginado seu primeiro dia, olhou pra sua colega de turma e perguntou o motivo da graça, ela abriu aquele sorriso e disse que sabia o que ele estava passando, havia se atrasado várias vezes para aula, por ter perdido o ônibus, José quase não entendeu nada, só conseguia se concentrar no sorriso de Luisa,  e lá estavam eles juntos pela primeira vez,  o que possibilitou que eles só quisessem estar perto um do outro.

*Você já deve estar se perguntando onde está o conflito que foi prometido até agora, mas tenha calma, já já você vai ver.

José só queria estar ao lado de Luisa, mas nem sempre ficavam juntos, ele era muito popular, requisitado por muitas pessoas/meninas. Luisa tinha formado sua pequena turma, sabia que sentia algo mais intenso que amizade por José, quando sentiu ciúmes pela primeiras vez, sabia que ele era de uma família rica, mas o admirava por não ser o tipo de garoto que se gaba por isso, ele era inteligente, interessante e muito simpático, além de ser bonito. Ele sentia o mesmo por Luisa, adorava estar perto dela, era como se ele pudesse ser ele mesmo, esquecia que o mundo era extremamente capitalista, esquecia do que seu pai dizia "Você é o que você tem, meu filho", esquecia de tudo e focava-se no sorriso e nas covinhas de Luisa, queria poder beijar-lhe, queria ser seu namorado.

Certo dia, ele a chamou para a estudar na biblioteca, tinham prova de direito constitucional, riram juntos, fizeram piadas, conversaram pra descontrair um pouco, lá ficaram até tarde, tão tarde que já era noite e só restavam eles no local, quando se deram conta do horário ficaram estarrecidos, José se ofereceu para levar Luisa em casa, que recusou, ele insistiu mas ela só aceitou companhia até o ponto de ônibus.

A grande verdade é que Luisa temia por sua mãe, ela havia depositado todas as esperanças na filha, a faculdade de Direito era a chance de uma vida melhor, não ia querer a filha metida com nenhum mauricinho metido a rico, nós sabemos que esse não é o caso de José, mas diga isso pra uma mãe solteira que fez tudo pra sua filha ter alguma probabilidade de sucesso.

Lá estavam eles, caminhando, iluminados por um luar maravilhoso, um céu estrelado, e dois corações pulsantes, José não aguentava mais um dia sem contar o que sentia por Luisa, ela era um sonho recorrente todas as noites, um pensamento insistente todos os dias, e ainda tinha aquele sorriso, aquela boca (...), ele respirou fundo e assim que chegaram no ponto de ônibus, segurou em sua mão e tocou-lhe o rosto, Luísa tímida, sentiu as pernas enfraquecerem, antes não conseguia olhá-lo nos olhos por mais de 3 segundos, agora era obrigada a encará-lo a centímetros de distância.

José havia pensado em muitas formas de começar um discurso romântico, tinha muito à dizer, queria que soubesse como ele se sentia estando ao seu lado, como pensava nela de forma recorrente, que esquecia de tudo só olhar pra ela, no entanto, agora estava ali, tão perto e tão longe de sua amada, sentiu medo pela primeira vez na vida, nunca teve problemas com namoradas, era tudo muito fácil, sempre as mesmas conversas, as mesmas piadas, mas agora ele não conseguia decifrá-la, era diferente, esqueceu de tudo que podia falar,  o ônibus parou no ponto de embarque, ele olhou-a nos olhos e disse que se ela não quisesse ser beijada deveria pegar o ônibus agora. O veículo foi embora, mas dois jovens beijavam-se apaixonadamente como se não houvessem problemas, como se fossem aqueles os seus últimos momentos de vida, como se dinheiro o não existisse nem fosse motivo pra segregar nada nesse mundo.

quarta-feira, 29 de julho de 2015

Mais uma carta não enviada

Não tenho tido inspiração para escrever há meses, talvez por conta da pressão rotineira, por estar focada no meu futuro, sempre pensando em como vou administrar o dinheiro que ainda nem recebi e já tem destinação, ou mesmo por evitar remoer assuntos pesados que há muito me definhavam, por ter fechado meu coração às possibilidades de romances, já deu pra perceber como anda a minha vida: monótona.
    Nada de extra-ordinário aconteceu desde que perdemos contato, não se preocupe, não vou citar nós dois, aliás sempre que cito, me vem a impressão de estar forçando uma situação constrangedora, mas juro que não o faço nesse intuito, é que é impossível não lembrar. Enfim, como disse, não vou me ater a te lembrar do nosso período de “quases”. Estou em ordem, seguindo uma rotina, fazendo o que todos esperam que eu faça, estudando (agora na faculdade), trabalhando, conhecendo pessoas, nada de anormal... Aliás, o que é o anormal não é mesmo? Na minha opinião: é fazer algo que todo mundo tem vontade de fazer mas não o faz. Para uma modelo, seria comer uma panela de brigadeiro ou tomar refrigerante. Para um mendigo, seria tomar um bom banho, usar roupas limpas ou comer em todos os horários. Para mim, seria encontrar você num dia desses de inverno andando pela rua da Aurora.
Daí me vem a reflexão: a anormalidade está no ato, não na vontade. Ser anormal é ser louco, ou todos somos loucos por não sermos anormais? Queria ter mais coragem, me importar menos, queria poder não me preocupar tanto.  Talvez seja esse o segredo da vida, o mais engraçado é que ninguém pensa nisso, trabalhamos para ganhar dinheiro, para comprar o pão, ganhar a vida, e no entanto, a vida está aí à nossa frente, com tamanha simplicidade e beleza, tão perto que quase dá pra pegar, mas agente não pega, é mais importante seguirmos as regras estabelecidas, o nosso pacto social, viver sem grandes firulas, sem inventar muita coisa para a sociedade não virar um hospício.
Imagina se todo mundo hoje resolvesse fazer tudo o que quisesse? Se a professora resolvesse tirar o dia de folga, os seus alunos poderiam ao cinema ou ao parque com seus pais que acabaram de tirar férias, os donos das empresas resolvessem que já haviam ganhado bastante dinheiro e começassem a não mais vender os seus produtos e/ou serviços, os ladrões, contrariados, não se motivariam a furtar, com intuito ostentar aquilo que desde o nascimento nunca puderam ter, para serem aceitos socialmente, as pessoas estariam tão focadas em suas vidas que nada mais importaria, a não ser a realização de seus sonhos. Que loucura seria se nós saíssemos da normalidade.
Eu, por exemplo, iria agora correndo bater na sua porta, para conversarmos como fazíamos há anos atrás, tempo em que as palavras pulavam da boca, eu não me preocupava tanto em pensar cada sílaba dita, não nos amedrontávamos com quase nada, muitas vezes ficávamos em silêncio entre olhares, era tudo tão natural. Sinto falta disso, da nossa amizade. Não ouse achar que estou forçando alguma situação, pelo contrário, nosso período de namoro, foi bem conturbado, não sinto tanta falta dos ciúmes, das intrigas, das lágrimas, das palavras forçadas, muito menos das traições.
           Queria ser mais corajosa pra te dizer tudo isso, acabei me tornando alguém extremamente complacente, tinha medo de falar coisas que poderiam te afastar de mim, e mesmo assim você se afastou, talvez porque eu me tenha me perdido na normalidade, ou dentro de mim mesma, o fato é que essa, assim como todas as outras, será mais uma das cartas que eu te escrevo e não tive coragem de enviar.