Ela inspira, respira,
fecha os olhos, enrijece cada músculo de seu corpo e reza para as
lágrimas voltarem. Ela não pode dar-se ao luxo de chorar, não pode
parar e analisar cada erro cometido, não pode planejar o futuro de
novo, isso só iria machucá-la mais uma vez e claro ela não pode
ferir-se de novo pelo mesmo motivo, pela mesma pessoa, repetir erros
é retroceder e voltar ao passado é perder tempo.
Todos esperam o seu
melhor, ela carrega expectativas de gente demais nas costas, dezoito
anos, é pouca idade pra tanta responsabilidade, mas, não foi
intencional, ela é a soma de passados fodidos e foi a única
ríspida esperança no meio de toda aquela indecência, calou-se
diante de toda aquela porcaria em que vivia, eu sei que não foi
intencional, foi a única corda pra se agarrar; ela não faz mais
escolhas, da ultima vez que fez, desviou-se do sentido de seu
nascimento e não valeu apena. Tem uma missão a qual foi
determinada, não muda, não se transforma. Às vezes eu penso em
como será no dia que ela conseguir chegar na ultima etapa... Ainda
haverá vida?
Os músculos relaxam,
os olhos se abrem e a visão do abismo vem à tona, seus pés estão
fixos à beira da montanha, o oceano se estende como plano de fundo e
futuro leito de um possível desfecho, talvez seu pensamento não
seja muito louvável, mas, olhando por um outro lado, essa vida que
esvai-se nem se quer à pertence de certo modo, seria um desfecho
perfeito para uma vida robótica e quase sempre pensada. Mais um
passo à frente e ela está há dois centímetros de um fim
irremediável, ela não pode voltar e viver do mesmo modo ou tentar
fazer tudo diferente, seria como matar os sonhos de outras pessoas
fodidas, é melhor que se acabe com a origem do incêndio e pronto!
Ela
tira a armadura, relaxa, chora, lembra-se dos erros, dos acertos, dos
amores que não pode ter, das feridas abertas em seu peito, imagina
como seria o futuro, pensa em erros que valeriam apena ser repetidos,
joga toda carga de pessoas fodidas no cume da montanha. Ela inspira,
respira, fecha os olhos, e apesar de toda descarga, sente o corpo
ainda mais pesado que de costume, então pede perdão a si mesma por
ser tão covarde e pula.
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